quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Mudanças...

Todos nós sabemos que a mudança é uma constante na nossa vida. Mas sempre que uma se avizinha os sintomas são sempre os mesmos: nó na garganta, o estômago com um friozinho e uma ansiedade aterrorizante.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A Morte Devagar

"Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de
discurso, evita as próprias contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo
todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no
supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca
vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu
parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou
uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim
alienam-se diante de um tubo de imagens que traz
informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo
com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma
vida.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o
preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de
emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho
nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços,
sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está
infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo
incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez
na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não
ouve música, quem não acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser
depressão, que é doença séria e requer ajuda
profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa
ajudar.

Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e
na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino:
então um governo omisso pode matar lentamente uma boa
parcela da população.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má
sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto
antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que
desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que
sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte
mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima
de verdade, aí já estamos muito destreinados para
percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto,
demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos
evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte
em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo
exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar."

Martha Medeiros

Sobre a autora:

Martha Medeiros nasceu em Porto Alegre em 1961. Formada em Publicidade. Escreveu livros de poesias e de crônicas, seu mais recente lançamento é o livro de ficção: Divã. Martha é cronista do jornal Zero Hora.

retirei este texto deste site http://www.tvcultura.com.br/provocacoes/poesia.asp?poesiaid=263

E ainda fui a outro para confirmar, ou não, o boato de este texto ser de Pablo Neruda. Parece-me que não é.
http://www.consciencia.net/2003/variedades/boatos.html

É muito importante verificar as fontes.
Por estas e por outras, prefiro os livros. São mais fidedignos.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Poema 5


Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa.
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser-quase, dor sem fim...
-Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

................................................
................................................

Um pouco mais de sol - eu era brasa.
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Mário de Sá Carneiro

Poema 4

Um Livro

Apenas uma coisa entre outras coisas
Mas também uma arma. Foi forjada
Na Inglaterra, em 1604,
E carregada com um sonho. Encerra
O som, a fúria, a noite e o escarlate.
A minha mão sopesa-a. Quem diria
Que contém o inferno: essas barbudas
Bruxas que são as parcas, os punhais
Que executam as duras leis da sombra,
O delicado ar desse castelo
Que te verá morrer, a delicada
Mão que é capaz de ensanguentar os mares,
O clamor e a espada da batalha.

Esse tumulto silencioso dorme
No espaço de um só livro, na tranquila
Prateleira da estante. Dorme e espera.

J.L.Borges

Poema 3


Los Enigmas

Yo que soy el que ahora está cantando.
Seré mañana el misterioso, el muerto,
el morador de un mágico y desierto
orbe sin antes ni después ni cuándo.

Así afirma la mística. Me creo
indigno del Infierno o de la Gloria,
pero nada predigo. Nuestra historia
cambia como las formas de Proteo.

¿Qué errante laberinto, qué blancura
ciega de resplandor será mi suerte,
cuando me entregue el fin de esta aventura

la curiosa experiencia de la muerte?
Quiero beber su cristalino olvido,
ser para siempre; pero no haber sido.

J.L.Borges

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Momento Filosófico

"Os limites da minha linguagem significam os limites do meu mundo." ou "Os limites da minha linguagem são os limites da minha mente. Tudo o que sei é aquilo para que tenho palavra.".
Ludwig Wittgenstein

Apesar de me ocorrer semelhante pensamento "A pequenez do meu mundo reside nas palavras por descobrir" depois de ouvir alguém dizer a frase de Wittgenstein, percebi que o pensamento é mais abrangente que a própria linguagem. Porquanto que a linguagem limita o próprio pensamento ou acto de pensar. Quando estou a viajar na minha mente não o faço exclusivamente por palavras mas também por imagens e sensações, muitas das quais não há palavras que as descrevam. Quando tento exteriorizar pensamentos ou sensações apercebo-me dos limites da nossa linguagem. Portanto eu diria que o meu mundo pode ser limitado pela linguagem.


"O pensamento de Wittgenstein evoluiu entre o Tractatus e a obra póstuma Investigações Filosóficas (1953), que recolhe as conferências dadas por ele em Cambridge. De fato, ele quase abandonou muitos de seus pontos de vista anteriores, tais como quando ele afirma que "os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo". Como muitos filósofos da linguagem, Wittgenstein, quando jovem, tratou as palavras como indicadores ou símbolos das coisas no mundo. Mas, na maturidade Wittgenstein considerou que toda essa ênfase na referência era simplista demais.
Em Investigações Filosóficas (1953) Wittgenstein oferece um novo ponto de vista: o significado das palavras não depende daquilo a que elas se referem, mas de como elas são usadas. A linguagem, dizia ele, é um tipo de jogo, um conjunto de peças" ou "equipamentos" (palavras) que são usadas de acordo com um conjunto de regras (convenções linguísticas). Como no Tractatus, o mundo é construído a partir de proposições, ou proposições potenciais, mas agora a ênfase recai menos no que as afirmações "significam" (denotam) do que em como elas se desenvolvem dentro de um contexto e um conjunto de regras.
Segue-se disso que o conhecimento não consiste em descobrir (ou inventar) alguma "realidade" que corresponda ao que falamos, mas sim em estudar o modo como a fala funciona. Assim sendo, a linguagem comum é o sujeito apropriado da filosofia. Problemas filosóficos tradicionais, relativos a conceitos tais corno "ser" e "verdade", são meramente confusões que surgem a partir do jargão filosófico e a tentativa equivocada de descobrir a "realidade" que ele supostamente "representa"."
Retirei este texto do site seguinte:

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Poema 2


A Concha

A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhadosa de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.

A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.

Vitorino Nemésio